Substância para proteção dentária

IMG 2098Uma proteína recombinante, protetora de esmalte dentário, e que pode ser incorporada em produtos odontológicos para aumentar a resistência ao desgaste dos dentes e prevenir a formação de cáries, é resultado recente de uma tecnologia desenvolvida na Universidade Federal de São Carlos. A patente intitulada Cistatina recombinante da cana-de-açúcar para redução do desgaste dentário erosivo e proteção contra cárie dentária é de autoria dos docentes Flávio Henrique da Silva e Andrea Soares da Costa Fuentes, e das alunas Adelita Carolina Santiago e Mariana Cardoso Miguel, do Departamento de Genética e Evolução (DGE) da UFSCar, em colaboração com Marília Afonso Rabelo Buzalaf da USP/Bauru, e John Michael Edwardson da Universidade de Cambridge da Inglaterra.

 

A tecnologia se refere à expressão heteróloga e purificação de uma nova cistatina de cana-de-açúcar denominada CaneCPI-5 – uma proteína inibidora de cisteíno proteases (uma classe particular de enzimas que degradam proteínas). A CaneCPI-5 pode ser incorporada ao esmalte dentário por meio da utilização de produtos odontológicos, e por se tratar de uma proteína ácido-resistente, ela tem o potencial de proteger a estrutura dentária de ataques de ácidos – de origem microbiana ou não –, aumentando a resistência ao desgaste dentário erosivo.

 

Em contato com a docente Marília Buzalaf, da USP, campus Bauru, o pesquisador Flávio soube que uma cistatina humana já havia sido testada em laboratório para prevenção de cáries não erosivas. No entanto, além do preço elevado, ela nunca havia sido utilizada para proteger de erosão dentária. A partir dessa informação, surgiu uma colaboração com a docente para a utilização da cistatina da cana, a qual já era produzida eficientemente na UFSCar. O seu uso foi ainda mais recomendado quando o laboratório verificou que a proteína se ligava fortemente às cubetas de quartzo utilizadas para ensaios enzimáticos, sugerindo que ela pudesse se ligar também ao esmalte dentário, o que motivou o estudo de maneira ainda experimental.

 

Segundo o inventor Flávio Henrique da Silva, o laboratório que coordena no DGE estuda cistatinas da cana-de-açúcar há cerca de 15 anos. Entretanto, apenas mais recentemente – nos últimos quatro anos – esta proteína, objeto da patente, foi descoberta e utilizada para proteção dentária, levando cerca de 18 meses para originar esta tecnologia. O inventor já previa a utilização da proteína para este fim, e os resultados reforçaram ainda mais seu potencial quando os pesquisadores envolvidos perceberam que “a proteína foi capaz de se ligar fortemente ao esmalte dentário e proteger os dentes da erosão ácida, indicando sua utilização de maneira prática por profissionais da área odontológica”, sugeriu Flávio.

 

Atualmente, há poucas cistatinas disponíveis no mercado, as quais possuem preços altos e não apresentam a mesma eficiência de proteção que a cistatina da cana-de-açúcar. Por conta disso, o pesquisador está trabalhando para aumentar a escala de produção, com o objetivo de oferecer o produto à área odontológica e à população em geral. A partir do resultado da tecnologia, o inventor também planeja a realização de testes de inclusão da substância em produtos alternativos. “Nós produzimos a proteína em laboratório, mas estamos trabalhando no aumento de escala de produção para atender o mercado industrial. Além disso, iniciamos testes de inclusão em dentifrícios, enxaguatórios bucais, pastilhas, gomas de mascar etc. para ampliar ainda mais sua utilização”, finalizou.