[10]-gingerol como molécula contra o câncer

Foto siteUma molécula natural com propriedades anticancerígenas está sendo testada na UFSCar a partir dos resultados de uma patente de invenção desenvolvida pelos pesquisadores Márcia Regina Cominetti, Angelina Maria Fuzer e Amanda Blanque Becceneri do Departamento de Gerontologia da UFSCar; Ana Carolina Baptista Moreno Martin, Heloisa Sobreiro Selistre-de-Araujo do Departamento de Ciências Fisiológicas (DCF); James Almada da Silva, João Batista Fernandes e Paulo Cezar Vieira do Departamento de Química (DQ); Normand Pouliot da Peter MacCallum Cancer Centre; e Rebeka Tomasin e Maria Cristina Cintra Gomes Marcondes da Unicamp.

 

A patente intitulada “Composição farmacêutica compreendendo [10]-gingerol e uso como molécula antitumoral e antimetastática” trata da utilização de um componente do gengibre, conhecido como [10]-gingerol, para o tratamento de câncer de mama. A molécula tem propriedade antitumoral, ou seja, na inibição do tumor primário de mama; e antimetastática, na inibição da formação de metástases, a partir do tumor primário. Considerando que as metástases mais comuns em pacientes de câncer de mama são ósseas, pulmonares e cerebrais, a molécula se mostrou eficiente na inibição de todos esses tipos de metástase nos testes em animais.

 

Levando cerca de quatro anos para ser desenvolvida, a ideia da patente surgiu a partir de resultados de experimentos com animais utilizando modelos de câncer de mama realizados nos laboratórios da UFSCar em tese de doutorado da pesquisadora Ana Carolina Baptista Moreno Martin, dentro do grupo do Laboratório de Biologia do Envelhecimento (LABEN). Coordenado pela docente Marcia Regina Cominetti do Departamento de Gerontologia da UFSCar, o grupo vem trabalhando com produtos naturais há cerca de 6 anos, em colaboração com o Laboratório de Produtos Naturais dirigido por Paulo Cezar Vieira e João Batista Fernandes do Departamento de Química.

 

Antes de iniciar os experimentos, os pesquisadores acreditavam na propriedade antitumoral da molécula. Entretanto, Márcia Cominetti explica que os resultados mostraram que, além de inibir o crescimento do tumor primário de mama, ela também foi capaz de inibir diferentes tipos de metástases, que não conta com muitas possibilidades de tratamento. “As metástases cerebrais, por exemplo, possuem poucas opções terapêuticas atualmente, onde muitas vezes a cirurgia não é passível de realização e a paciente conta somente com a radioterapia e quimioterapia. Além disso, o tratamento quimioterápico de modo geral, disponível na clínica médica atual, causa efeitos colaterais agressivos à saúde humana como náuseas, enjoos, diarreias, perda de peso, perda de cabelo, entre outros”.

 

O diferencial desta patente com relação aos outros fármacos disponíveis no mercado, é a baixa toxicidade apresentada nos testes em animais por se tratar de um produto natural extraído de uma planta. Essa característica torna a molécula promissora como um fármaco convencional, ou até mesmo como coadjuvante em tratamentos de quimioterapia.

 

Entretanto, para estar disponível no mercado, a molécula deve passar por testes adicionais, sendo que alguns já estão sendo planejados pelo grupo de pesquisa, como os testes de alterações estruturais da molécula para melhorar sua eficácia, e as análises da metabolização do [10]-gingerol pelo organismo. Segundo a pesquisadora, atualmente o grupo está em fase de elaboração de projeto que prevê mais pesquisas para comprovar a hipótese definitiva da molécula, apresentando eficiência superior aos efeitos colaterais dos medicamentos atuais. “Nossos próximos estudos irão demonstrar se o tratamento combinado do câncer de mama com a molécula poderá diminuir os efeitos colaterais indesejados nos tratamentos quimioterápicos. Além dos testes, os resultados de invenções como essa visam atrair o interesse da indústria farmacêutica para sua comercialização”, declarou Cominetti.