Biossensores eletroquímicos para detecção do Parkinson
A doença de Parkinson é uma doença degenerativa e progressiva de áreas específicas do cérebro, caracterizada pelo tremor dos músculos em repouso, pelo aumento no tônus muscular, instabilidade de movimentos e dificuldade de equilíbrio. Embora atualmente não exista cura para a doença, se descoberta precocemente, ela pode ser tratada de maneira eficaz, retardando a evolução dos sintomas. O desafio, no entanto, é que até o momento não há exames neurológicos e tomografias computadorizadas que demonstrem essas alterações físicas. Pensando na potencialidade dos marcadores biológicos auxiliarem a descoberta nos estágios iniciais de diversas doenças, os pesquisadores do Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação (DCNME) da Universidade Federal de São Carlos, Bruno Campos Janegitz, Gabriela Carolina Mauruto de Oliveira e Jeferson Henrique de Souza Carvalho, numa parceria com Laís Canniatti Braazaca da USP e Nirton Cristi Silva Vieira da UNIFESP, desenvolveram uma tecnologia que determina dois biomarcadores a dopamina e a proteína DJ1 relacionadas com a doença de Parkinson.
A patente de invenção intitulada Eletrodos flexíveis de platina utilizados como biossensores eletroquímicos para determinação de biomarcadores relacionados ao Mal de Parkinson e método de fabricação realiza a análise eletroquímica através da utilização da dopamina de uma amostra, inserindo-a no eletrodo e determinando a disfunção dos biomarcadores que significam que o paciente tem a predisposição de desenvolver o Parkinson. Isso acontece porque a proteína DJ1 atua no bloqueio da sinapse, e sua disfunção produz o corpo de Levi fazendo com que a estrutura física do paciente comece a tremer.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde de 2018, 1% da população mundial acima de 65 anos já convivia com a doença de Parkinson, sendo que, no Brasil, a estimativa é de que ela acometa mais de 200 mil pessoas. Considerando a expressividade destes números pouco explorados na literatura científica, o grupo liderado por Bruno Janegitz investiu em atuar na detecção de doenças autoimunes acreditando num mercado promissor de tratamento através da indústria farmacêutica. A detecção de uma doença neurológica tão debilitante quanto a Doença de Alzheimer que leva o paciente à demência ainda é limitada.
Levando cerca de um ano para ser desenvolvida desde os testes preliminares em amostras sintéticas durante a pesquisa de mestrado em biotecnologia de Gabriela de Oliveira, os diferenciais desta tecnologia se referem à portabilidade, agilidade e sustentabilidade. É um equipamento novo que pode ser levado e utilizado em qualquer hospital e laboratório de análises, levando cerca de 5 horas para oferecer o diagnóstico. Além disso, por se tratar de um filme de platina flexível, o sistema pode ser facilmente descartado, explicou Janegitz.
A tecnologia poderá interessar às indústrias farmacêuticas e laboratórios nacionais e internacionais, e foi recentemente publicada em revista de alto impacto e uma das mais importante na área de biossensores. Para estar disponível no mercado, no entanto, a tecnologia carece do interesse da indústria, além de incentivo governamental com impostos negociáveis a partir de seu licenciamento. O pesquisador acredita que o alinhamento do Governo poderia destravar a inovação no Brasil à medida que os empresários entendessem que diversas soluções podem ser desenvolvidas dentro das universidades, e produzidas em larga escala no Brasil, com baixo e fácil acesso. Nesse sentido, do ponto de vista sintético, todas as etapas foram realizadas em escala laboratorial, mas há a necessidade de realizar os testes clínicos com amostras de pacientes com a doença através de parcerias com hospitais e indústrias farmacêuticas ou médicas visando validar como os biomarcadores se manifestam.
O grupo já atua com produtos patenteados para detecção de proteínas para doenças neurológicas desde a pesquisa de doutorado de Janegitz. Neste momento, com apenas cinco anos de trabalho e diversas pesquisas na área da saúde, o grupo interrompeu suas atividades e redirecionou esforços para a COVID-19 em meio à pandemia mundial. Além de estudar o tema a fim de entender o percurso do vírus, eles reuniram outros pesquisadores de diferentes áreas e montaram grupos de trabalhos para submissão de projetos das agências de fomento à pesquisa. Segundo o pesquisador, no momento, o grupo atua em trabalho financiado pela Capes para a COVID-19, propondo estes mesmos sensores de platina flexíveis para a detecção do vírus em parceira com outros professores. A tecnologia é tão abrangente que poderá ser testada para detecção de vírus, fungos, bactérias etc. para verificar a ligação do anticorpo relacionado a determinada doença no eletrodo, ou seja, podemos estender o procedimento da patente para qualquer patógeno.
Reconhecido o potencial direto da tecnologia, Janegitz evidencia a importância do trabalho realizado dentro das universidades e institutos de pesquisas para a produção de bens de consumo para a sociedade. Sempre ressalto que sozinhos não fazemos absolutamente nada, pois são necessárias muitas ideias e discussões com parceiros e executores para que as coisas saiam do papel. Hoje, mais do que nunca, podemos dizer que a ciência é muito importante e a inovação pode gerar oportunidades incríveis de transformar a vida das pessoas, finalizou.
Foto: Jefferson Henrique de Souza Carvalho