Kit portátil para detecção de microrganismos no ambiente

WhatsApp Image 2020-07-28 at 11.11.02Quando alguém que você ama é hospitalizado e passa por um procedimento cirúrgico de sucesso, mas tem que permanecer sob cuidados da ala médica, o seu “sinal de alerta” certamente fica ligado. Depois de uns dias você recebe a notícia de que a saúde desta pessoa piorou e, com isso, vem o diagnóstico: infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS), popularmente conhecida como “infecção hospitalar”. E, dentro deste processo, você se pergunta: por que isso acontece e como pode ser evitado? Nesta área, há fatores multivariados que podem influenciar a causa e um deles é a presença deste ambiente na infecção, sendo que a solução costuma se apresentar sempre da mesma forma: o paciente é submetido ao tratamento medicamentoso com higienização total das mãos e instrumentos de contato, mas há atenção para este “gerador” de riscos que pode potencializar as taxas de infecções hospitalares ou ele é negligenciado? Será que é uma bactéria multirresistente que pode provocar uma infecção ou ela é transmitida por pessoas ao redor? Pensando em minimizar este problema, o pesquisador Filippo Ghiglieno do Departamento de Física da UFSCar em parceria com a empresária e pesquisadora Gabriela Byzynski desenvolveram a patente de invenção intitulada “Leitor e sensor de microrganismos baseados em alterações de propriedades eletromagnéticas de etiqueta RFID”, capaz de identificar doenças bacterianas ao redor de pacientes hospitalizados e permitindo soluções mais imediatas em processos infecciosos.

 

Para o desenvolvimento da tecnologia, os pesquisadores observaram os ambientes hospitalares e a relação de microrganismos e infecções presentes em colchões, cabeceiras, maçanetas, equipamentos etc. buscando uma técnica que apresentasse resultado rápido – diferente das existentes que levam até duas semanas (período em que o microrganismo já alterou seu comportamento). A partir dos testes laboratoriais, o desenvolvimento resultou numa tecnologia que funciona como um “glicosímetro” – medidor de taxas de glicemia – através de uma caixa com leitor e etiqueta descartável, onde é inserida a amostra do leito do paciente (deposição química de compostos coletados) que, em contato com o solvente a uma distância de aproximadamente 30 centímetros, permite identificar em até 30 minutos o patógeno/bactéria presente naquele ambiente, transferindo seus dados por IOT.

 

Levando cerca de nove meses para ser desenvolvida, a ideia da invenção surgiu durante uma pesquisa de pós-doutorado realizada em 2017 pela empresária e inventora Gabriela Byzynski, que atuava com sensores e inspirou-se no monitoramento de ambiente. Na ocasião, ela firmou parceria com a sócia Margarete de Almeida da área de microbiologia criando a startup Nanochemtech Solutions sediada no Parque Tecnológico de São José do Rio Preto, com apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Prova da originalidade e sucesso da ideia é que a proposta foi vencedora do Startup Day Lide Futuro - Rio Preto em 2018, concorrendo com outras startups do Estado.

 

De acordo com Gabriela Byzynski, o principal diferencial desta tecnologia se refere à sua portabilidade (de fácil manuseio), além da rapidez e agilidade em oferecer um resultado seletivo. Isso porque as técnicas semelhantes do mercado identificam a presença de resíduos orgânicos – pele, cabelo, sujeira etc. –, mostrando que há contaminação, mas não descrevem especificamente o que está acontecendo ao redor do paciente. “Ele está sendo contaminado por o quê? O teste se mostrou efetivo, por exemplo, na identificação da bactéria da pneumonia que é preocupante no cenário hospitalar. Essa especificidade de saber qual bactéria ou microrganismo está presente é muito importante”, ressaltou.

 

Atualmente, o grupo realiza testes em instituições hospitalares parceiras nas cidades de São Paulo e São José do Rio Preto com o objetivo de validar a amostragem e seu tempo de coleta e verificando novo potencial na identificação de fungos. Com isso, a startup busca licenciar a tecnologia para empresas que atuem em sua fabricação e beneficiem o maior número de pessoas, inclusive, no mercado mundial. “O nosso modelo de negócios prevê a venda dos kits às instituições hospitalares para utilização de enfermeiros e técnicos, e na prestação de serviços, ou seja, com equipe responsável pelo monitoramento transmitindo os dados para a instituição. Dependendo do comportamento da tecnologia no Brasil, podemos abranger ainda mais as características de microrganismos em outros lugares do mundo”, explicou Byzynski.

 

Além disso, a situação pandêmica – causada pelo novo coronavírus – trouxe novos desafios à ciência e o estudo de doenças. Em razão disso, a inventora explica que o grupo também articula parceiros para a realização de testes para monitoramento de microrganismos pouco conhecidos como a COVID-19, adaptando a tecnologia e modificando a superfície do biossensor, mas utilizando os mesmos princípios, ou seja: identificando os vírus seletivamente através de bioreceptores específicos que transmitem sinal eletromagnético na presença do microrganismo. “O sonho de todo pesquisador que trabalha nessa área é a identificação rápida de problemas. Agora com a pandemia, as pessoas já entendem que, quando estamos dentro de um ambiente, tudo o que tocarmos possuirá algum microrganismo, bactéria, fungos ou vírus. Saber que há a presença de resíduos é uma coisa, mas ter conhecimento do tipo de comorbidade que atinge um paciente com a imunidade baixa pode alterar o percurso do processo infeccioso”, finalizou.

 

Conheça o trabalho desenvolvido pela startup no site.

 

Imagem: Elaboração de Gabriela Byzynski