Ciência para o desenvolvimento marcou pronunciamento

 

O investimento em ciência e tecnologia como caminho para o desenvolvimento e para a soberania do País foi a tônica dos discursos na sessão solene de entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia - Edição 2019, dos títulos de "Professor Emérito do CNPq" e Menções Especiais de Agradecimento, e da posse dos novos membros titulares da Academia Brasileira de Ciências (ABC). A cerimônia aconteceu na noite da última quarta-feira, 15, na Escola Naval, no Rio de Janeiro.

 

O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), João Luiz Filgueiras de Azevedo, ressaltou as "transformações tecnológicas cada vez mais aceleradas" citando, como exemplo, a transformação digital, "que tem afetado todas as áreas do conhecimento". Para ele, é certo que esse ritmo só vai aumentar. "Nesse contexto, a capacidade de um País em gerar conhecimento científico e transformá-lo em produtos e processos inovadores é absolutamente fundamental para a sobrevivência soberana desta nação", disse.

 

Filgueiras também mencionou a importância de o Brasil evoluir no relacionamento com a comunidade mundial, no que diz respeito a uma economia baseada em commodities para exportação de bens com alto valor agregado. "Mas essa evolução" - observa - "só será possível por meio do conhecimento científico e tecnológico, e de um esforço concentrado na formação e na motivação dos nosso jovens para buscarem carreiras que privilegiem a ciência e a tecnologia".

 

Presidente do CNPq discursando no evento

Presidente do CNPq, João Luiz Azevedo, discursa durante o evento. Foto: Roberto Hilário/CNPq

 

Reconhecendo que o País passa por um momento de "restrições fiscais bastante severas", o presidente do CNPq afirmou que a única saída para o desenvolvimento é o investimento em ciência e tecnologia. "Se quisermos um lugar ao sol entre a comunidade das grandes nações, não há uma alternativa ao investimento em ciência e tecnologia. Podemos até discutir quanto à origem dos recursos para tais investimentos, mas eles terão que ser feitos".

 

Para Filgueiras, a comunidade científica brasileira já é muito produtiva e muito pujante. Mas é preciso garantir as condições para que possa continuar ativa e produtiva, e seja capaz de encontrar formas de canalizar sua liderança para a área de inovação. "Dessa maneira, estará apta a contribuir para a geração de riquezas para a sociedade", acredita.

 

Falando de sua "grande satisfação" em participar de uma cerimônia que celebra o conhecimento científico, o presidente do CNPq encerrou seu pronunciamento manifestando o "mais profundo respeito àqueles que dedicam esforços para que o fazer ciência seja possível e reconhecido como um valor dos mais importantes para a nação brasileira" e agradecendo a todos que tornaram o evento possível, "em especial à Fundação Conrado Wessel e à Marinha do Brasil, e aos que vieram aqui homenagear os agraciados e os novos membros da ABC".

 

Patrimônio - Saudando todos os agraciados do CNPq e da ABC, e fazendo um retrospecto da cooperação interinstitucional que há 13 anos viabiliza a outorga do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, com o patrocínio da Fundação Conrado Wessel, o professor José Moscogliato Caricati, diretor vice-presidente da entidade, realçou que todos os esforços para honrar esse compromisso valeram a pena. "E sabem por quê? Porque, por tudo o que fizemos, fizemos algo pela ciência. Ciência. Palavra bonita, repleta de significados".

 

Citando o filósofo grego Aristóteles, afirmou que "a ciência é um conhecimento certo e evidente das coisas pelas suas causas ontológicas, intrínsecas, extrínsecas e teleológicas". E acrescentou: "Não basta saber o que a coisa é, é preciso saber a causa de ela ser o que ela é, e não outra coisa, e para que ela existe. Isso quer dizer, saber o quê, o porquê e para quê. Nós tomamos de empréstimo esse conceito e enfatizamos o significado objetivo e social do conhecimento", disse.

 

Caricati se referiu ao axioma "saber para servir", a fim de atingir um "humanismo renovado, baseado em possibilidades inesperadas, guardadas para nós, pelo futuro", complementou. Segundo ele, "foi o que nos trouxe aqui". Como exemplo, mencionou o químico Conrado Wessel, que há 100 anos criou o novo conhecimento, e, por meio dele, "amealhou um patrimônio, e destinou esse patrimônio para servir ao País. Cá estamos".

 

Encerrou seu pronunciamento dirigindo-se aos agraciados: "Vamos, então, parabenizar o professor Vanderlei Salvador Bagnato e todos os cientistas e acadêmicos homenageados hoje, e os demais, desejando que todos também consigam um patrimônio, fruto do seu conhecimento, para transformar o Brasil no Brasil que nós queremos".

 

Questão de sobrevivência - O comandante da Marinha do Brasil, almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior, iniciou fazendo uma saudação a autoridades, a cientistas com os quais teve o privilégio de estudar, entre eles o matemático Jacob Pális e o físico Luiz Davidovich, respectivamente ex e atual presidente da ABC, ao presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, e sua antecessora, Helena Nader, a quem chamou de "guerreira da ciência", sendo muito aplaudido.

 

Aos novos membros da ABC, uma reverência: "É um privilégio estar aqui, quando esses novos tripulantes embarcam nessa aventura que é pertencer à Academia Brasileira de Ciências em um país que precisa, na brevidade possível, para ontem, superar os desafios importantes na área de educação, ciência e tecnologia. É questão de sobrevivência e prosperidade, de soberania nacional". Citou o Programa Nuclear Brasileiro, para dizer a parceria entre ciência e Marinha significa prosperidade.

 

"A junção dessa matriz estratégica, a ciência e os marinheiros, indica países prósperos em toda historia da civilização humana. Daí a importância da nossa parceria. Quando a ciência se junta com os marinheiros, nós temos um país onde o bem estar é marcante. E os prêmios aqui refletem essa importância, e a Marinha se sente muito honrada em homenagear, também, os novos membros da Academia Brasileira de Ciência e o professor Vanderlei Salvador Bagnato".

 

"No entendimento da Marinha, a linha de frente da defesa do País são professores e cientistas. Nós somos a força que decorre desse conhecimento. Eu vou encerrar mencionando o lema do setor de ciência e tecnologia da Marinha: soberania pela ciência. Parabéns, professor". Após o pronunciamento do almirante de esquadra Ilques Júnior, Vanderlei Salvador Bagnato foi convidado para uma foto oficial com todos os parceiros envolvidos na premiação.

 

Pesquisadores eméritos - No evento, o CNPq também homenageou os agraciados com o título de Pesquisador Emérito e a Menção Especial de Agradecimentos.

 

Foram escolhidos dez nomes para o titulo de Pesquisador Emérito como reconhecimento pelo conjunto da obra científico-tecnológica e por seu renome junto à comunidade científica, e quatro personalidades que atuaram em prol da ciência no ano de 2018 receberam Menção Especial. Além do título e diploma, os pesquisadores receberão diárias para participação em congresso científico, no país ou no exterior.

 

Os dez agraciados são: os engenheiros químicos Carlos Alberto Lombardi Filgueiras (UFMG) e David Sérgio Kupfer (UFRJ), a médica veterinária Ekaterina Akimovna Botovchenco Rivera (UFG), o médico Elisaldo Luiz de Araujo Carlini (Unifesp), o cientista social José de Souza Martins (USP), a historiadora natural Maria Irene Baggio de Moraes Fernandes (Embrapa), a matemática Nilza Eigenheer Bertoni (UnB), e o químico Rogerio Meneghini, cofundador (com Abel Packer) do Scientific Electronic Library Online (SciELO).

 

Agraciados com o título de Pesquisador Emérito e Menção Especial de Agradecimentos no palco durante o evento

Agraciados da noite, na cerimônia de homenagens. Foto: Roberto Hilário/CNPq

 

Também homenageados com o título de Eméritos, In Memorian, o engenheiro mecânico Marcos Pinotti Barbosa e o cineasta Nelson Pereira dos Santos, tendo sido representados por seus filhos.

 

Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1B, o médico cearense Manoel Odorico de Moraes afirmou que sua carreira científica pode ser resumida em uma sentença: paixão pelo conhecimento científico. Professor de Farmacologia Clínica na UFCE, disse que seu contato com a ciência começou muito cedo, quando ainda era criança. "O cientista traz consigo a curiosidade infantil. O que eu mais digo aos jovens que pensam em ingressar na carreira científica é: não desistam".

 

Autor de centenas de publicações, em parceria com pesquisadores do Brasil e do exterior, Odorico se notabilizou nacionalmente por sua pesquisa com a pele de tilápia para tratamento de queimaduras, que envolve mais de 120 pesquisadores de diferentes instituições do País.

 

O CNPq também ofereceu Menção Especial de Agradecimento de 2019 à Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, à socióloga Maria Cecília de Souza Minayo, pesquisadora da Fiocruz e editora da Revista Ciência & Saúde Coletiva, ao matemático Marco Antonio Raupp e a Gilberto Kassab, ambos ex-ministros de Estado da área de Ciência e Tecnologia. Concedido anualmente, a honraria é atribuída a pessoas físicas ou jurídicas em reconhecimento aos significativos serviços prestados ao crescimento, desenvolvimento, aprimoramento e divulgação do CNPq no ano anterior à entrega do título.

 

Os candidatos são indicados pela Diretoria Executiva do CNPq e por membros do Conselho Deliberativo (CD), e escolhidos por este último. "Fico muito honrado de receber essa homenagem, sobretudo porque não sou da área científica. Agradeço ao CNPq e reitero que estou sempre à disposição para contribuir com a ciência, a tecnologia e a inovação do País", disse Gilberto Kassab.

 

Veja todas as fotos do evento no Flickr do CNPq.

 

Fonte: CNPq