Vitrocerâmica para proteção balística

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A proteção balística acoplada em veículos ou coletes à prova de balas geralmente é feita a partir de materiais poliméricos de alto desempenho ou metais, protegendo contra munições de baixo calibre. Para aumentar o nível de proteção, é necessário agregar a essa armadura principal – que pode ser de metal ou polímero – uma armadura de sacrifício. Esta armadura de sacrifício pode ser uma placa de cerâmica tradicional ou, como no caso deste invento, o material vitrocerâmico desenvolvido no LaMaV da UFSCar. Este procedimento foi fruto de uma pesquisa de mestrado em Engenharia de Materiais que resultou na patente Composições vitrocerâmicas, vitrocerâmicas obtidas, armadura de sacrifício e artigo para proteção balística. A ideia dos pesquisadores Ana Candida Martins Rodrigues, Edgar Dutra Zanotto, Oscar Peitl Filho e Leonardo Sant'Ana Gallo era desenvolver um material à base de vidro, que após tratamento térmico de cristalização – tornando-o vitrocerâmica – tivesse características que o qualificassem como material de proteção balística.

 

A pesquisa surgiu dos trabalhos realizados pelos pesquisadores Edgar e Ana Candida, do Departamento de Engenharia de Materiais, que tinham ideais em projetos de aeronáutica, objetivando desenvolver material vitrocerâmico para janelas e assentos de helicópteros, a fim de aumentar a proteção do piloto na questão visual e de ataques de tiros vindos do solo. Por se tratar de material duro, quando a vitrocerâmica é atingida por um projétil, ela é fraturada e, com isso, rouba a energia do projétil, diminuindo sua velocidade e seu poder de penetração, e fazendo com que ele seja moído. Por isso há dois componentes importantes envolvidos: a armadura principal – que tem a finalidade de parar definitivamente a bala e os fragmentos gerados pela fratura da cerâmica – e a armadura de sacrifício – que diminui drasticamente a velocidade e o poder da bala.

 

Levando cerca de dois anos para ser desenvolvida e testada em protótipo balístico, o material pode ser tanto transparente como opaco, dependendo do tratamento térmico empregado. Sua principal vantagem e o diferencial desta invenção é sua menor densidade quando comparada com os materiais utilizados atualmente no mercado. Essa característica permite maior autonomia dos veículos que utilizam proteção balística ou de soldados e policiais que utilizam a proteção por meio de coletes. Ou seja, por se tratar de material vitrocerâmico transparente, mais duro e mais leve do que o vidro blindado tradicional, resulta em material menos espesso, menos pesado, mas com o mesmo nível de proteção.

 

Além da questão militar, as blindagens automobilísticas têm crescido vertiginosamente nos últimos anos, tanto pela sensação de insegurança da população, quanto pelo aumento do número de pessoas com poder aquisitivo para possuir um carro blindado. O material transparente pode ser empregado em capacetes e viseiras protetoras, e para blindagem arquitetônica de guaritas ou muros, levando em conta o crescimento de condomínios luxuosos em regiões povoadas.


Os testes práticos foram realizados com o material em empresa específica na cidade de Campo Limpo Paulista. Os pesquisadores partiram de duas amostras de mesmas dimensões com tratamentos térmicos diferentes, sendo que uma resultou em material transparente e outra em material opaco. A ideia era testar se, para duas situações diferentes, o material seria eficaz em nível de proteção. Para isso, o material foi atingido com uma bala de projétil utilizada para bateria antiaérea, cuja velocidade da bala e a distância do alvo eram normatizadas. Com o teste, foi possível perceber que, nas duas condições o material transparente e opaco pararam completamente o projétil, levando à constatação de que a vitrocerâmica desenvolvida pela UFSCar é adequada para ser utilizada como proteção balística de sacrifício contra munições de alto calibre. A proteção pode ser tanto veicular (automóveis, helicópteros e aeronaves – material transparente), quanto de coletes à prova de bala.

 

No Brasil, existe interesse sobre esse tipo de tecnologia, cujo mercado consumidor é amplo, devido aos recentes manifestos e protestos. Além disso, o país está recebendo eventos grandiosos como a Copa do Mundo e Olimpíadas que exigem o reforço da proteção dos policiais e exército que precisam estar equipados, não apenas de munição, mas de proteção adequada. Por isso, os pesquisadores afirmam que, para estar disponível no mercado, há a necessidade de encontrar empresas parceiras que se disponham a produzir e comercializar o produto, tendo em vista que o trabalho realizado em escala laboratorial é diferente do trabalho aplicado em escala industrial.

 

A partir destes resultados, os pesquisadores já atuam em novos trabalhos com o tratamento térmico de amostras coloridas. O material estudado é transparente em razão de um dos componentes, porém colorido na cor púrpura. Os pesquisadores acreditam que as possibilidades de aplicações seriam ainda mais ampliadas se fosse possível desenvolver um material transparente e totalmente incolor.